quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Anahy de las Misiones: filme recria lendas dos gaúchos



“Anahy de las Misiones” é um raro filme brasileiro a abordar de forma poética, dramática e lúdica episódios lendários da história do período colonial, ambientados na Revolução Farroupilha (1835-1845). Neste sábado (18), às 17h, o Cineclube UFGD exibe essa obra gratuitamente, em sessão aberta para maiores de 16 anos, no cine-auditório da Unidade 1, localizada na Rua João Rosa Góes, 1761, Vila Progresso.

Esse filme é a recriação de lendas dos gaúchos do Brasil, Argentina e Uruguai, com a de Anahy de las Misiones – que errava pelos países do Prata vendendo despojos saqueados dos soldados mortos nas batalhas – ou a da Salamanca do Jarau (fixada por Simões Lopes Neto em lendas do Sul).

“Anahy de las Misiones” foi eleito melhor filme pelo júri e público no festival de Brasília de 1997. Dirigido por Sérgio Silva tem no elenco atores como Araci Esteves, Marcos Palmeira, Dira Paes, Giovanna Gold, Matheus Narchtergaele, Claudio Gabriel, Ivo Cutzarida, Leverdógil de Freitas, Roberto Birindelli, Marcos Barretto e Oscar Simch.

Mais informações
Sobre o filme
http://www.programadorabrasil.org.br/filme/275/

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os Matadores: Cineclube exibe filme ambientado na fronteira Brasil-Paraguai




Neste sábado (11), às 17h, o Cineclube UFGD exibe os filmes “Os matadores”, de Beto Brant, e “Sinistro”, de René Sampaio, em sessão é aberta para maiores de 16 anos, no cine-auditório da Unidade 1 da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). O cine-auditório está localizado na Rua João Rosa Góes, 1761, Vila Progresso, com entrada pela Rua Gustavo Pável.

Os filmes marcam ainda a estréia em longa de Beto Brant e em curta de ficção de René Sampaio, com duas obras premiadas em festivais nacionais, que antecipavam promissoras carreiras. Vale notar a proximidade geográfica entre os filmes, ambos ambientados na região Centro-Oeste, entre a fronteira Brasil-Paraguai, no caso do longa, e Brasília, no caso do curta.

Os Matadores e Sinistro, realizados com três anos de diferença entre eles (1997 e 2000, respectivamente), são dois filmes representativos de um determinado formato narrativo cinematográfico que encontrou seu ápice de utilização na segunda metade dos anos 1990: as multinarrativas, que dividem tanto seu protagonismo entre vários personagens simultaneamente, como também são marcadas pelas idas e vindas no tempo cronológico da sua história. Nos dois casos, outro ponto em comum é o flerte, em diferentes níveis, com o cinema policial – no caso, pelo lado dos "marginais".

Sinopses

Os matadores de Beto Brant
SP, 1997, Ficção, Colorido, 90 min.
Em um bar na divisa Brasil-Paraguai, um homem está para ser eliminado. Enquanto esperam o defunto encomendado, dois matadores, Toninho e Alfredão revelam uma história em que é difícil encontrar culpados e inocentes. Presente e passado se misturam em torno da morte de Múcio, o pistoleiro mais competente da região, mostrando que matar ou morrer é uma fronteira fácil de se atravessar. Um chefe, uma bela mulher, um serviço a ser feito. O filme testa os limites da amizade, do medo e da traição. Quem traiu?

Sinistro de René Sampaio
DF, 2001, Ficção, PB, 19 min.
Sinistro. (do lat. Sinistru). Adj. 1 Esquerdo. 2 Que é de mau agouro; fúnebre, funesto: “Eis a estrada poeirenta e sinistra da morte!” (Marcelo Gama, Via Sacra. P. 136.). 3 De má índole; mau. 4 Que infunde receio; ameaçador, temível – S.m. 5. Desastre, ruína. 6 Grande prejuízo material; dano. 7 Ocorrência de prejuízo ou dano (incêndio, acidente, naufrágio, etc.) de algum bem sobre o qual se fez seguro. E eis que um homem entra num táxi e vai ao encontro de um cliente. Porém, um terrível acidente muda o rumo da história e cria uma teia de coincidências entre todos os personagens.

Crítica - Os Matadores


Elipse que funde um só tempo


Luiz Joaquim da Silva Jr.*

Em 1997 o cinema nacional ainda encontrava-se em processo de soerguimento após o duro golpe dado pelo governo Collor no início daquela década. Enquanto Carla Camurati com seu “Carlota Joaquina – Princeza do Brazil” havia reconquistado o público três anos antes, Fábio Barreto e “O Qu4trilho”, ao concorrer ao Oscar de filme estrangeiro em 1996, mostrava que as novas produções brasileiras já tinham fôlego para impressionar o mercado estrangeiro.

Foi também em 1997 que surgiu no horizonte do nosso circuito comercial cinematográfico Beto Brant com seu primeiro longa-metragem, “Os Matadores”. O jovem Brant, então com 34 anos, em pouco tempo viria a se tornar um dos mais produtivos, corajosos e eficazes entre os realizadores de sua geração.

O cineasta já havia dado sinal de vida inteligente no campo da produção audiovisual, fosse na confecção de videoclipes, fosse nos anteriores curtas-metragem: “Aurora” (1987), “Dov’è Meneghetti?” (1988) e, particularmente, em “Jó” (1993). Com “Os Matadores”, Brant dava continuidade e elaborava melhor seu desejo de registrar a realidade com uma narrativa seca, direta, sem firulas; estando o homem e seus conflitos com o próximo e com o ambiente como principal problemática.

A secura e objetividade narrativa não escondiam, porém, um esmero dramatúrgico e um roteiro laborioso, com um requinte pouco visto pelo cinema que se fazia no Brasil em 1997. E o mais importante, com uma identidade da classe média brasileira bem marcada. Coisa mais rara ainda quando o gênero era o policial nacional, que prescindia de glamour mas necessitava de um perfil audiovisual enxuto. Perfil que Brant conseguiu imprimir muito bem em “Os Matadores”, assim como em seus projetos posteriores, tais como “Ação entre Amigos” (1998) e “O Invasor” (2001) cuja trama também envolvia violência física e psicológica.

No caso de “Os Matadores” os homens em conflito são os assassinos de aluguel Toninho (Murilo Benício) e Alfredão (Wolney de Assis) que esperam à noite num bar, na divisa entre o Brasil e o Paraguai, uma vítima que nunca chega. Enquanto o condenado não aparece, o veterano Alfredão fala ao novato e impaciente Toninho sobre o pistoleiro Múcio (Chico Diaz, estupendo) seu antigo parceiro, considerado uma lenda na região.

Em elipses que unem o presente e o passado, o roteiro escrito pelo próprio Brant em parceria com Fernando Bonassi, Victor Navas e Marçal Aquino (cujo conto “Matadores” deu origem ao filme) abre espaço para acompanharmos não só as perturbações internas de seus personagens como também para observamos o ambiente atuando sobre esses personagens. Este último aspecto fica bem marcado com as seqüências do rodeio e do comércio no Paraguai, que “invadem” o enredo como um olho documental, oxigenando a veracidade da história ali contada.

O curta-metragem brasiliense “Sinistro” (2000), de René Sampaio, incluído neste pacote, também é baseado em contos, no caso, os de Fernando Sabino. Funciona também com o passado e o presente interligando os personagens. Eles são um ladrão, um taxista, seu passageiro e dois bombeiros ansiosos para se livrarem do corpo de um acidentado no trânsito. Entre todos eles, um jogo de futebol prestes a iniciar. Além do acidente sinistro, é o humor que também está presente em todas as situações deste muito bem encenado e montado trabalho.

*Crítico de cinema do jornal Folha de Pernambuco, curador do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e professor da Especialização em Cinema da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).