O projeto de extensão Cineclube UFGD terá uma programação
especial neste sábado, 01 de setembro, a partir das 17h, para celebrar a
história dos soldados de Mato Grosso do Sul que lutaram na Itália, durante a Segunda
Guerra Mundial, pela Força Expedicionária Brasileira (FEB). A entrada é franca
e o evento será no cineauditório da Unidade 1 da UFGD (Rua João Rosa Góes,
1761, Vila Progresso).
A abertura contará com apresentação musical de saxofone do
maestro Ângelo Vicente e a programação prevê exibição do filme documentário “FEB
- 60 anos” sobre a participação dos Brasil no conflito, seguido por debate com
o jornalista Helton Costa, autor do livro “Confissões do Front: soldados do Mato
Grosso do Sul na II Guerra Mundial”. Vários soldados da FEB confirmaram presença
no evento, como de Dourados e de Maracaju, além de parentes dos soldados que já
faleceram.
Entre os pracinhas que confirmaram presença está Gonçalo
Escolástico, de Maracaju, que tem quase 90 anos e foi ferido no combate de
Monte Castello por conta de um bombardeio de tanque alemão. Estilhaços perfuraram
braços, pernas e o rosto. Esteve internado por 12 dias e depois voltou para o
front com estilhaços nunca retirados e que ainda estão cravados na perna. Gonçalo
prometeu tirar foto com os presentes.
O livro será lançado durante a sessão do Cineclube UFGD e
será vendido a R$ 20,00 para custear a doação de exemplares para as bibliotecas
de escolas públicas de Mato Grosso do Sul.
Sobre o livro
Editado pelo “Grupo Literário Arandu”, o livro conta a
história de vários soldados do Estado que lutaram na Segunda Guerra Mundial como
integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), contingente de 25 mil
combatentes enviados em 1944 para a Itália para lutar contra tropas nazistas e
fascistas e Hitler e Mussolini.
O jornalista Helton Costa estuda o assunto há quase 10 anos,
e agora com 26 anos de idade resolveu juntar as bibliografias que teve contato
e as entrevistas que fez com sul-matogrossenses que integraram a FEB e transformar
tudo em um livro.
Segundo ele, pelo menos 180 soldados aparecem em listas
fornecidas pelos quartéis e pela Associação dos Veteranos como soldados do Mato
Grosso do Sul, nascidos nos municípios locais ou que imigraram para o Estado no
pós-guerra.
“Hoje menos de 10% desses homens estão vivos, todos
octogenários. Conversei com todos eles e tive contato com dados que outros
pesquisadores como os jornalistas Vanderley Vieira e Luis Carlos Luciano e o
historiador Márcio Aparecido possuíam, de forma que o livro é bem abrangente no
sentido testemunhal dos ex-soldados que viveram o horror dos campos de batalha
europeus”, explica.
Dez jovens sul-matogrossenses morreram em combate e vários outros
foram feridos por tiros e estilhaços de granada. Na guerra, que acabou em maio
de 1945, os expedicionários como eram conhecidos, enfrentaram além do inimigo
que já guerreava havia quase seis anos, temperaturas que no inverno chegaram a
-20ºC.
O treinamento que os brasileiros receberam foi de menos de
seis meses, quando o normal era pelo menos um ano. Mesmo assim os brasileiros
não fizeram feio, pelo contrário, ajudaram no esforço de guerra e combateram à
altura dos Exércitos mais experientes, tanto dos aliados, quanto dos inimigos e
depois de nove meses de lutas, os alemães se renderam incondicionalmente em 8
de maio de 1945. Em 239 dias de ação, a FEB fez mais de 20 mil prisioneiros e
matou outros milhares, porém perdeu mais de 451 soldados, mortos em combate, e
aproximadamente registrou ainda 1,6 mil feridos, acidentados e desaparecidos em
combate.
“Agora imaginem vocês o que era o Mato Grosso do Sul em
1944! Aí você estava em sua casa, em uma fazenda trabalhando como peão e de uma
hora para outra é convocado para lutar numa guerra do outro lado do oceano!
Imaginem o choque cultural, a brutalidade de um conflito, ter que matar para
não ser morto e muito mais e depois voltar para casa e voltar à vida cotidiana
como se nada tivesse acontecido. Foi isso que aconteceu com nossos
soldados", explica Helton.
Segundo ele, a sociedade nem o governo estavam prontos para
reintegrá-los e muitos deles tiveram problemas por conta disso. "Confesso
que várias vezes durante as entrevistas tive vontade de chorar de revolta por
conta das condições precárias em que encontrei homens que na juventude
literalmente deram o sangue pelo país e que na volta foram esquecidos”, admite
Helton.
O livro relata o antes, o durante e o depois da guerra dos
entrevistados e será doado gratuitamente para as escolas do Estado com Ensino
Médio. “As novas gerações tem que conhecer essas histórias. É um meio de verem
que mesmo que o mundo pareça perdido, como era na década de 40 com a expansão
do nazismo, sempre haverá esperança no final se cada pessoa fizer sua parte e o
que é certo. Esses brasileiros quase anônimos fizeram a parte deles e nós hoje
temos que fazer a nossa para um mundo melhor para nossa geração e para as
gerações que hão de vir”, argumenta o autor.
Contato: h_costa@hotmail.com
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