Foi criado no início de 2009 por um grupo técnicos administrativos e docentes da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) interessados em desenvolver o movimento cineclubista na universidade. Atuando em Dourados-MS, terá exibições abertas e gratuitas de filmes nacionais às quartas-feiras, às 12h, no auditório de Biotecnologia da Unidade 2 da UFGD e aos sábados, às 17h, no cine-auditório da Unidade 1 da UFGD.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Cineclube UFGD encerra 2010 com o filme “A dama do Cine Shanghai”
O Cineclube UFGD exibe do filme “A dama do Cine Shanghai”, neste sábado (4), às 17h, no cine-auditório da Unidade 1 da UFGD. A entrada é franca e o filme é classificado para maiores de 16 anos.
Vencedor de onze premiações, dentre elas sete troféus Kikito do Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, o terceiro longa-metragem de Guilherme de Almeida Prado é um thriller policial em homenagem ao clássico cinema noir norte-americano. Classificado pelo próprio autor nos créditos finais como um “filme b”, esta obra é marcada por um humor sutil e ferino. Lucas, cafajeste tipicamente brasileiro interpretado por Antônio Fagundes, se envolve em uma trama de intriga e suspense,marcada muitas vezes por um delicioso nonsense. Conduzido de forma inteligente e despretensiosa até um grand finale digno das melhores produções policiais, o filme ainda conta com um invejável elenco de grandes estrelas da dramaturgia brasileira.
Numa noite quente e úmida de verão, Lucas, um corretor de imóveis e ex-boxeador, entra em um cinema no centro de São Paulo para ver um filme policial. Na sala escura conhece Suzana, uma bela e misteriosa mulher, muito parecida com a protagonista do filme. A partir desse encontro, aparentemente fortuito, o vendedor passa a viver uma aventura de suspense e sua paixão o envolve num labirinto de pistas e assassinatos.
Essa sessão encerra a programação de 2010 do Cineclube UFGD e a equipe de execução inicia o planejamento para as ações de 2011, conforme projeto já aprovado na Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da UFGD e que prevê mostras temáticas do cinema francês, alemã, chinês e canadense, além dos filmes nacionais.
O longa-metragem foi fornecido ao Cineclube UFGD pela Programadora Brasil, do Cine Mais Cultura, programa do Ministério da Cultura.
Site: A dama do Cine Shanghai de Guilherme de Almeida Prado
SP, 1988, Ficção, Colorido, 114 min.
Crítica
A arte do imaginárioGustavo Galvão*
Especialistas de última hora não perdem tempo em apontar saídas para a crise de público vivida pelo cinema brasileiro pós-retomada. Clamam por uma produção que se justifique — seja como instrumento social, seja como algo viável comercialmente. O cinema já não se justifica por si só. No contexto que prestigia o pragmatismo e massacra a subjetividade do artista, a obra de Guilherme de Almeida Prado é um corpo estranho.
O fato é que Almeida Prado faz os filmes que gosta de ver, livrando-se da armadilha do senso comum ao estabelecer um compromisso com seus sonhos de cinéfilo. Em filmes como A dama do cine Shanghai, embora transborde mas referências aos clássicos do passado, sobressai uma visão particular.
Sua arte discute as questões humanas ao destrinchar o legado do cinema, esse grande fomentador do imaginário coletivo.
São duas as épocas que definem a narrativa. Por um lado, a história de amor entre uma mulher casada e uma gente imobiliário presta homenagem aos policiais noir da década de 1940. Eram os “filmes B”: produzidos à margem das superproduções de Hollywood, eles jogaram luz no lado sombrio da prosperidade norte-americana. No entanto, a década que prevalece a cada cena é a de sua realização, a de 1980 — evidente nos letreiros em néon, nos sintetizadores da trilha sonora e na composição visual.
Os mais de 20 anos que se passaram desde a estreia não comprometeram essa trama, e a razão disso está no fascínio do cineasta pelo cinema B. Ele exacerba tudo que há de artificial em A dama do cine Shanghai. O que estava acima do tom em 1988, continua sendo hoje. O desprezo pelo naturalismo prolonga a vida do filme, bem como potencializa a ambigüidade de situações carregadas de perversidade e erotismo.
Pistas falsas, subtramas que não fecham, insinuações duvidosas. Assim é o filme, no qual o cineasta combina uma inquietação quase existencial com a admiração pelo cinema de Alfred Hitchcock e thrillers à moda antiga. A essência está nos primeiros dez minutos: vê-se a platéia de um cinema antigo, mas o som vem do filme projetado na tela. A partir daí, o intercâmbio entre real e imaginário é intensificado a ponto de apagar a fronteira entre ambos. É o elogio do cinema como a arte do subconsciente revelado.
Em A dama do cine Shanghai, a desmoralização do real reafirma o poder do imaginário. Por isso a ênfase nos movimentos de câmera, um recurso para liberar o intenso fluxo de imagens gerado pelo personagem de Antônio Fagundes. Boa parte da ação se desenrola na mente dele, o homem que extravasa — no filme que vê — suas ambições de virilidade. Algo similar ocorre com Almeida Prado, que se realiza como investigador da complexidade humana ao extravasar a subjetividade de artista.
*Gustavo Galvão Atuou no jornal Correio Braziliense
como crítico e repórter, entre 1996 e
2003. Formado emjornalismo pela Universidade
de Brasília, fez especialização
em cinema na Espanha. É curador de
mostras audiovisuais e dirigiu sete curtas
de ficção, entre eles o premiado A
Vida ao Lado (2006), exibido em 25
festivais no Brasil e no exterior.
Especialistas de última hora não perdem tempo em apontar saídas para a crise de público vivida pelo cinema brasileiro pós-retomada. Clamam por uma produção que se justifique — seja como instrumento social, seja como algo viável comercialmente. O cinema já não se justifica por si só. No contexto que prestigia o pragmatismo e massacra a subjetividade do artista, a obra de Guilherme de Almeida Prado é um corpo estranho.
O fato é que Almeida Prado faz os filmes que gosta de ver, livrando-se da armadilha do senso comum ao estabelecer um compromisso com seus sonhos de cinéfilo. Em filmes como A dama do cine Shanghai, embora transborde mas referências aos clássicos do passado, sobressai uma visão particular.
Sua arte discute as questões humanas ao destrinchar o legado do cinema, esse grande fomentador do imaginário coletivo.
São duas as épocas que definem a narrativa. Por um lado, a história de amor entre uma mulher casada e uma gente imobiliário presta homenagem aos policiais noir da década de 1940. Eram os “filmes B”: produzidos à margem das superproduções de Hollywood, eles jogaram luz no lado sombrio da prosperidade norte-americana. No entanto, a década que prevalece a cada cena é a de sua realização, a de 1980 — evidente nos letreiros em néon, nos sintetizadores da trilha sonora e na composição visual.
Os mais de 20 anos que se passaram desde a estreia não comprometeram essa trama, e a razão disso está no fascínio do cineasta pelo cinema B. Ele exacerba tudo que há de artificial em A dama do cine Shanghai. O que estava acima do tom em 1988, continua sendo hoje. O desprezo pelo naturalismo prolonga a vida do filme, bem como potencializa a ambigüidade de situações carregadas de perversidade e erotismo.
Pistas falsas, subtramas que não fecham, insinuações duvidosas. Assim é o filme, no qual o cineasta combina uma inquietação quase existencial com a admiração pelo cinema de Alfred Hitchcock e thrillers à moda antiga. A essência está nos primeiros dez minutos: vê-se a platéia de um cinema antigo, mas o som vem do filme projetado na tela. A partir daí, o intercâmbio entre real e imaginário é intensificado a ponto de apagar a fronteira entre ambos. É o elogio do cinema como a arte do subconsciente revelado.
Em A dama do cine Shanghai, a desmoralização do real reafirma o poder do imaginário. Por isso a ênfase nos movimentos de câmera, um recurso para liberar o intenso fluxo de imagens gerado pelo personagem de Antônio Fagundes. Boa parte da ação se desenrola na mente dele, o homem que extravasa — no filme que vê — suas ambições de virilidade. Algo similar ocorre com Almeida Prado, que se realiza como investigador da complexidade humana ao extravasar a subjetividade de artista.
*Gustavo Galvão Atuou no jornal Correio Braziliense
como crítico e repórter, entre 1996 e
2003. Formado emjornalismo pela Universidade
de Brasília, fez especialização
em cinema na Espanha. É curador de
mostras audiovisuais e dirigiu sete curtas
de ficção, entre eles o premiado A
Vida ao Lado (2006), exibido em 25
festivais no Brasil e no exterior.
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